sábado, setembro 30, 2006

O desespero


Cuspir palavras de amor
No rosto da pessoa que amamos.
Despejar um perfume de dor
Através dos gestos que atiramos.

Uma rainha querer ser.
Com mentiras sempre brincar.
Tentar te enlouquecer
Quando já não consigo respirar.

Estar contra ti para existir.
Embrenhar-me de todo o mal
Que um dia me fizeste sentir.
Transformar-me num jogo fatal.

Perante ti irei partir
Os espelhos onde se reflectia,
Sempre a oprimir,
O teu olhar que me perseguia.

Apagarei sem lamento
A tua alma da minha.
Desaparecerá o meu tormento
Quando chegar esse dia.

Que importam urnas de cinzas cheias?
Este pensamento que me aliena?
Cortarei com frieza minhas veias
Para matar o peso da minha pena.

sexta-feira, setembro 29, 2006

A multidão


Na multidão,
Por vezes parece maior a nossa solidão.

Cruzamo-nos sem nos ver,
Tocamo-nos sem sentir,
E se um de nós desaparecer,
Ninguém se preocupará em conferir.

Na multidão,
Por vezes parece maior a nossa exaltação.

Atropelamo-nos sem parar,
Ofendemo-nos sem perceber,
E se um de nós começar a gritar,
Todos, o mais forte, quererão ser.

Na multidão,
Deveria ser maior a nossa união.

Respeitarmo-nos sem julgar,
Conhecermo-nos sem esconder,
E se um de nós tropeçar,
Todos, em solidariedade, ajudá-lo a se erguer.

quinta-feira, setembro 28, 2006

A nómada


Vagueio pela minha vida
Como uma partícula de pó
No rasto de um cometa.
Vivo desiludida.
Permaneço ainda só
À espera de um profeta.

Deambulo pela minha vida
Como uma partícula de pó
Levada pelo vento.
Vivo perdida.
De mim sinto dó,
Em constante tormento.

Erro pela minha vida
Como uma partícula de pó
Nómada na minha mente.
Vivo indefinida.
Como num quadro de Miró,
Sou metáfora incongruente.

quarta-feira, setembro 27, 2006

O pôr do Sol


Uma bola vermelha de raios incandescentes
Flamejava no céu colorindo-o de tonalidades resplandescentes.
Rosas, violetas, encarnados,
Laranjas e dourados
Pintavam uma tela
De todas a mais bela.
Esses laivos lascivos levaram o horizonte
A ser do amor uma translúcida fonte.
Enfeitiçada por aquele firmamento em chamas,
Ouvi-te murmurar ardentemente que me amas
Mesmo sabendo que estavas longe daqui,
Mas toda aquela magia inflamada me lembrou de ti.

terça-feira, setembro 26, 2006

A-mar


À beira-mar, vou me abeirar de ti para te amar. Os nossos corpos vão rolar e ondular como as ondas que se enrolam na areia molhada. No vaivém da paixão, navegarei ao sabor de marés de prazer.
É assim que mergulho em ti - num mar imenso e profundo de amor.

segunda-feira, setembro 25, 2006

A introspecção


Quanto mais penso no que sinto,
Sinto que não penso os meus sentimentos.
Nem sei se de mim ou de mais alguém os consinto,
Tantos e tão diversos são os meus pensamentos.

E permaneço confusa, indecisa e dividida
Pois fico sem saber quem de mim tem a razão.
Entre o bem e o mal, vagueio perdida,
Seguindo, ora o concreto, ora o coração.

E, nesse corrupio de ideias, reconheço
Que ainda me surpreendo com o meu ser.
Descubro que ainda há muito que desconheço.
Novas facetas avistarei talvez até morrer!

domingo, setembro 24, 2006

O banco do jardim

Sentada no banco vermelho do jardim,
Contemplo a frescura verdejante da folhagem
Das seculares árvores frondosas,
Que desenham sombras no serafim
De olhar fixo à tumultuosa passagem
Das brincadeiras das crianças ruidosas.

No meio dos húmidos relvados,
Maciços perfumados de flores coloridas
Quebram, do verde, a uniforme monotonia.
Em círculos fugidios, os peixes dourados
Beijam, dos nenúfares, as folhas estendidas,
Partilhando as águas em perfeita harmonia.

Longe fica a agitação cinzenta da cidade,
Os carros que buzinam apressados,
As pessoas que passam sem dizer bom dia.
Aqui, os meus sentidos enchem-se de felicidade
E todos os meus problemas ficam dispersados.
No banco vermelho do jardim, respiro a alegria.

sábado, setembro 23, 2006

A solidão


Aos 25 anos, ela pensava que já tudo tinha conseguido alcançar e que o sucesso e a beleza jamais a iriam abandonar. Queria esquecer que a vida está sempre a mudar e que o jogo apenas acaba quando não há mais cartas para lançar.

Aos 45 anos, ela pensava que o melhor ainda estava para vir e que ainda estaria a tempo de muitas coisas conseguir. Acreditava que a juventude não chegava para tudo descobrir e que o seu sonho de amor ainda o iria atingir.

Aos 65 anos, mais um Natal passara e ninguém aparecera. A sua única companhia eram as suas fotografias colocadas no móvel. Sozinha, revia retratos de um amor que nunca acontecera. As suas memórias faziam parecer tudo ainda mais imóvel.

Aos 85 anos, ela recorda-se dos tempos de fantasiosa felicidade, em que tinha dinheiro e amigos que diziam que nunca a iriam abandonar. Mas o tempo incessante passou e depressa fugiu a lealdade. Hoje, ela grita em silêncio porque não tem ninguém para a escutar.

sexta-feira, setembro 22, 2006

À deriva


Nas ondas do mar
Estou a flutuar
À deriva no mar
Debaixo da luz solar
Por cima das águas do mar
Nas vagas a vaguear
Perdida no mar
Deixo de pensar
Levada pelo mar
O corpo a ondular
Deitado no mar
O sal a secar
Trazido pelo mar
Não sei onde vou chegar
Com a força do mar
Em qualquer lugar
O meu lar é o mar

quinta-feira, setembro 21, 2006

O Outono

Soturno, cinzento, macilento,
O céu chora chuvas de lamento
E eu quedo-me à janela
Que pinta o jardim em aguarela.
As folhas, os ramos, abandonam
Para se deitarem no chão,
Vendo as aves que partem e voam
Para reencontrar o Verão.
Eis a vida no seu ciclo fatal,
Despindo-se nos braços do adormecer outonal.

quarta-feira, setembro 20, 2006

A Primavera


Um raio de sol irrompeu
Por entre a núvem escurecida
E com sua ternura resplandeceu
No seio da natureza adormecida.

A flor, as suas pétalas, abriu
Para as encher de calor
E com suas tonalidades radiosas coloriu
O mundo, transfigurando-o em amor.

O perfume, despertado pela luz quente,
Libertou-se e invadiu o ar
Transformando, num sonho transcendente,
A imperturbada paisagem secular.

Foi então que toda a ave unida,
Inebriada com tanta beleza,
Entoou uma doce e alegre melodia
Para homenagear a natureza.

E assim a Primavera nasceu
De cores, perfumes, sons e emoções
E o ciclo da vida agradeceu
Fazendo palpitar todos os corações.

O luar


A lua
É uma bola
Que rola
No ar.
A roda
Da lua
É o luar
Circular.

domingo, setembro 17, 2006

O azul


Olho pela janela.
O azul imenso inunda o meu olhar
Numa matiz tão bela
Que só a natureza sabe pintar.
Reflexos prateados,
Na água estão a dançar
Com passos ondeados.
Céu e mar vão se beijar
Numa união tão perfeita
Que é difícil avaliar,
De visão satisfeita,
Se um dia irão acabar.
Olhando para a janela do meu pensamento,
No azul do teu olhar,
Desejo intensamente, com todo o sentimento,
Transformar-me no teu mar.

sexta-feira, setembro 15, 2006

O anjo



Um anjo no céu vi naquele dia
Com suas asas de luz a voar
Na minha núvem triste em que vivia
Lançou seu brilho p'ra me iluminar

Devagar, veio até mim com bondade
E deu-me alento p'ra voar também
Nesse céu de paz e felicidade
Onde se pode ir sempre mais além

Fui abençoada com sua ternura
No meu coração ficará sempre guardado
Desse lindo anjinho, o carinho e a brandura
Para toda a vida intimamente a meu lado.

quinta-feira, setembro 14, 2006

O agradecimento




Como fogo soltam-se as palavras
Depende de como são lavradas
Por vezes aquecem e nos iluminam
Outras destroem e nos desanimam

O que li nos comentários postados
Deixaram meus olhos cativados
Minha alma poeta se emocionou
E durante toda a noite sonhou

A todos que meu cantinho visitam
E que neste mundo lírico coabitam
Quero deixar meu enorme agradecimento
Pois dão-me força a cada momento.


Mas a operação de escrever implica a de ler como seu correlativo dialéctico, e estes dois actos conexos precisam de dois agentes distintos. É o esforço conjugado do autor e do leitor que fará surgir o objecto concreto e imaginário que é a obra do espírito. Só há arte para os outros e pelos outros.

SARTRE, Jean-Paul, Situações II

O sapo


O sapo sapiente mas sem paciência salta e salpica-se nos charcos de água sem mágoa. Como a pulga, pula em diagonal vertical no pantanal horizontal. Feliz, diz que não queria ser como a perdiz perdida e fujida da fúria da espingarda guardada pelo caçador causador de tanta dor. Sem medo e ledo, o sapo vivencia a vida como sinfonia de alegria.

quarta-feira, setembro 13, 2006

O prazer


Sonho saudades de te querer
Danças sensuais no meu interior
Gritos, delírios, tremores de prazer
Corpos fundidos no fogo do amor

Intensa subtil paixão ondulante
Voa no espaço que há em mim
Sinto-te anjo, homem, amante
Nos fluidos cálidos de frenesim

Na delícia extasiada deixo-me viajar
Para além dos limites da lua
No teu corpo de delírio vou vibrar
Em desejos de ser sempre tua

A insatisfação


Há um sonho em mim
Que me enche de dor
Um desespero sem fim
Que busca o ardor
Um desejo de amar
Aquele que não me ama
Uma vontade de parar
Este coração de lama
Infeliz aquele que me deseja
Porque não terá o meu amor
Peço a Deus que me proteja
E que deste frio faça calor
É tão mau este meu coração
Vazio só sabe fazer sofrer
Para mim tudo é uma ilusão
Insatisfeita hei-de sempre viver.

terça-feira, setembro 12, 2006

A entrega


O sol
Me acalentou
A lua
Me enfeitiçou
O vento
Me acariciou
A chuva
Me beijou
O mar
Me inebriou
A flor
Me alegrou
Mas só a ti
Me dou

O sol
Se iluminou
A lua
Se transformou
O vento
Se apressou
A chuva
Se intensificou
O mar
Se acalmou
A flor
Se perfumou
Mas só a ti
Me dou

O leite


No meu leito eu me deleito com um copo de leite, esse líquido delicado, alvíssimo, imaculado. Sem o pecado da gula, engulo o alimento que desliza liso e lento no meu ente crente dos seus benefícios para o edifício ósseo.
No ócio, a satisfação que essa acção provoca, evoco.

segunda-feira, setembro 11, 2006

O amor


Nos meus sonhos
És a estrela mais cintilante da minha constelação

No meu coração
És a batida mais forte da minha emoção

Na minha vida
És o sopro mais fogoso da minha respiração

sábado, setembro 09, 2006

A imaginação


Que tristeza
De morrer
Sem a certeza
De saber
Se fui uma partícula
De vida
Uma razão minúscula
Conseguida

Que solidão
Não conhecer
O que o coração
Pode ver
No mundo adulto
Isolada
Fujo do tumulto
Desolada

Que incerteza
É viver
Só na pobreza
De sobreviver
Na imaginação
Outra vez criança
Rio sem hesitação
Com confiança

Que alegria
De acreditar
Na fantasia
E brincar
O absurdo do mundo
Já esquecer
Num sono profundo
De novo adormecer

A ilusão


Hoje acordei em mais um dia de ilusão
Num frio estático pus meus pés no chão
Esqueci-me de tudo o que aconteceu ontem
Lembro-me apenas que tenho de fazer de conta
Que estou num lugar onde não estou
Um pequeno sabor a hipocrisia me tomou
Adormeço meus erros e embora estejas perto de mim
Continuas tão distante que não consigo afastar-me do fim
Vejo-te a guardar tudo dentro de ti
De olhos abertos vejo a dor que senti
Magoei-te e magoas-me com prazer
Caí no chão sem saber o que fazer
Mas tudo continuará sempre igual
Porque quando as coisas correm mal
Finjo que o passado não é real
A linha entre o amor e o ódio é apenas formal
Agora sou prisioneira das minhas memórias
Apenas um fantasma de sensações contraditórias.

sexta-feira, setembro 08, 2006

A poesia




Para mim escrever poesia
Juntar palavras em harmonia
É um enorme desafio
E por vezes um atrofio

Tento elaborar um texto engenhoso
Há dias que só sai algo piroso
Como Pessoa queria ser habilidosa
Ter esse dom da escrita preciosa

Para já limito-me a juntar rimas
Digo para mim "Tu não desanimas"
E um dia talvez escreva algo sublime
Com esforço, que a beleza culmine.

quinta-feira, setembro 07, 2006

A vida


Ainda somos jovens mas já nos sentimos velhos
Passamos o tempo a fazer planos para amanhã
Enquanto que sem esperar a vida rápida passa
E continuamos a nos sentir vazios e inseguros
Para quê tanto suor e preocupação com o futuro
Se nem sequer sabemos se estaremos cá amanhã

Quando surgem momentos difíceis dizemos
"Ninguém deve sofrer tanto como nós"
Dia após dia vemos quanto tudo é efémero
Mesmo o amor pode ser apenas passageiro
Para ver a luz, temos de aproveitar cada momento
As preces não ajudam a dissipar o ar atroz

Quantas vezes estivemos prestes a cair para o abismo?
Então vivamos cada dia como se fosse o último da nossa vida
Aproveitemos o hoje e não esperemos pelo próximo dia!

quarta-feira, setembro 06, 2006

O medo




Á noite, faz-te sentir amada
De dia, sentes-te abandonada
Sorrindo, transmite-te calor
E fala-te de amor
Mas tudo não passa de ilusão
E tu bem o sabes...

As suas palavras fazem-te sonhar
Ele é tudo o que poderias desejar
Mesmo quando dói, acabas por ficar
Promete-te sempre que vai mudar
Mas tudo não passa de ilusão
E tu bem o sabes...

Depois do amor, vira-te as costas
És apenas mais uma que aceitou as propostas
Como as outras que com ele vão para a cama
Amanhã jurará que é só a ti que ele ama
Mas tudo não passa de ilusão
E tu bem o sabes...

Quando as coisas estão a esmorecer
Com um "amo-te" faz-te tudo esquecer
Sabes que é isso que às outras vai dizer
Acreditas que sem ti ele não pode viver
Mas tudo não passa de ilusão
E tu bem o sabes...

Pensas que sem ele nada pode existir
E que as tuas lágrimas não o deixam ir
As lágrimas até podem secar
Mas o coração não se pode mascarar
Tudo não passa de ilusão
E tu bem o sabes...

E se pensares bem
Verás que o que te faz ficar
É apenas e somente
O medo...

terça-feira, setembro 05, 2006

Amo-te


A ternura
Que colocas no meu olhar

As carícias
Que me fazem ondular

As lágrimas
Que não fizeste rolar

Os dramas
Que soubeste evitar

Os silêncios
Que conseguiste ultrapassar

Os sentidos
Que ajudaste a despertar

A minha pele
Que só tu sabes acalmar

As palavras
Que me impelem a avançar

Tudo o que fazes é ouro
Que em mim está a brilhar

O que me dás é um tesouro
De amor que me faz exultar.

segunda-feira, setembro 04, 2006

A impaciência


Tantas pessoas querem
Tanto saber o sentido de amar
Que até de si próprias se esquecem
Largam tudo e começam a caminhar
Com pressa de chegar
Não querem esperar

Tantas pessoas continuam a procurar
A desejar, a perseguir mas por vezes perdem
O rumo e a paciência de apreciar
E descobrir o que os outros valem
Querem logo alcançar
Sem ter de conquistar

Tantos sonhos se desvanecem
Pois servem apenas para escapar
Aos medos e receios que nos perseguem
Valerá a pena exigir tão pouco da vida para amar?
Qualquer coisa aceitar
Para deixar de chorar?

Eu quero ir devagar
Aprender o que tenho de aprender
Vais ter de saber esperar
O amor irá acontecer
Quando tiver de acontecer
Juntos temos de o aguardar
Para depois melhor o saber guardar.